Osteoporose e Medicina Geral e Familiar
A
osteoporose persiste como um importante problema de Saúde Pública em
Portugal como no resto do Mundo. Um trabalho epidemiológico que
conduzimos recentemente demonstrou que ocorreram em Portugal Continental
cerca de 10.000 fraturas osteoporóticas do fémur proximal em cada um
dos anos de 2006 a 2010. Estes números sugerem que foram cerca de 40.000 o número total de
fraturas osteoporóticas (incluindo todos os locais) em cada ano e este
enorme peso social tende a aumentar em virtude do envelhecimento
progressivo da população. Estes factos estão em flagrante contradição com a progressiva
diminuição do número de prescrições de medicação anti-osteoporótica
observada no nosso país nos últimos anos.
Demonstram que a comunidade
médica nacional não pode relaxar o seu empenho na prevenção de fraturas
ainda que a osteoporose esteja mais ausente da comunicação da indústria
farmacêutica. A atual escassez de recursos económicos para a Saúde torna
especialmente premente a necessidade de selecionar para terapêutica os
doentes que mais têm a ganhar com ela. O objetivo da terapêutica
anti-osteoporótica reside exclusivamente em prevenir fraturas. Sendo
assim, a decisão racional de tratar deve basear-se na estimativa do
risco de real de fratura, em cada doente – restringindo o tratamento aos
que têm risco mais elevado. Este risco está relacionado com os valores
da densitometria mas depende, adicionalmente de uma variedade de fatores
clínicos independentes da massa óssea, tais como: idade, sexo, peso e
altura, história prévia pessoal e familiar de fraturas, entre outros. Estes fatores estão reunidos no FRAX® – um algoritmo desenvolvido
pela OMS, que permite a estimativa do risco individual de sofrer
fraturas osteoporóticas nos dez anos subsequentes. Este algoritmo foi já
validado para a população portuguesa e disponibilizado online. Sendo certo que estes fatores clínicos eram já nossos conhecidos,
é seguro que nenhum médico pode integrar mentalmente estes fatores de
forma mais rigorosa e fundamentada do que o FRAX®. É essencial, por
isso, conhecer e utilizar racionalmente este instrumento, reconhecendo o
seu alcance e também as suas limitações, combinando números e senso
clínico nas doses e ocasiões adequadas. Empregue judiciosamente, o FRAX®-Portugal, constitui o melhor
instrumento disponível para calcular o risco de fratura osteoporótica em
cada um dos nossos doentes e o melhor suporte para a decisão racional
de intervir terapeuticamente. É importante conhecê-lo.
Por José António Pereira da Silva, reumatologista, Faculdade de Medicina de Coimbra, Hospitais da Universidade de Coimbra
Artigo original publicado no Jornal do Congresso do IX Congresso Português de Osteoporose
Fonte: http://www.vitalhealth.pt/opiniao/1627-osteoporose-e-medicina-geral-e-familiar
Fonte: http://www.vitalhealth.pt/opiniao/1627-osteoporose-e-medicina-geral-e-familiar