Saúde

Até 22% das Crianças Europeias têm uma Alergia
A anafilaxia é cada vez mais uma das manifestações de alergia observadas na criança, sendo sobretudo provocada por alergia alimentar. Até 22% das crianças europeias têm uma alergia, com as reações alérgicas graves a alimentos a aumentar. Estas situações, que podem ser fatais, exigem a atenção não só dos imunoalergologistas mas de todos os profissionais de saúde. Eis uma das mensagens em anúncio do novo guia de atuação em anafilaxia, em que a Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica (EAACI) se encontra atualmente a trabalhar. O guia de atuação sobre alergia alimentar e anafilaxia da EAACI, será disseminado em junho de 2014, numa iniciativa comum entre a EAACI, organizações de doentes, sociedades nacionais de alergia de toda a Europa, médicos de cuidados primários e farmacêuticos. 

"Com este novo documento, a EAACI pretende fornecer, à comunidade científica e da área da saúde, recomendações baseadas na evidência científica sobre o reconhecimento, avaliação e tratamento dos doentes que apresentaram, apresentam ou estão em risco de apresentar um quadro de anafilaxia" sublinha Nikolaos G. Papadopoulos, Presidente da EAACI, citado em comunicado.

 "A anafilaxia, que passou a ser de notificação obrigatória em Portugal em 2012, é ainda mal diagnosticada e subtratada entre nós colocando em risco 0,5 a 1,5% da população portuguesa, sendo que, abaixo dos 18 anos, os alimentos são a sua principal causa", refere em comunicado Luís Delgado, presidente da SPAIC.

"O Catálogo Português de Alergias e outras Reações Adversas (CPARA), desenvolvido com a colaboração de membros da SPAIC, permite registar e partilhar informação destas reações em todo o sistema de saúde Português. Este é um tema da maior atualidade, que será abordado sexta-feira, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, num curso de Alergia Alimentar organizado com a Faculdade de Ciências da Nutrição da UP e o Hospital S. João, com o patrocínio científico da SPAIC", acrescenta o representante da SPAIC.

Alergia alimentar: 17 milhões na Europa
A anafilaxia é uma reação alérgica grave generalizada, ou sistémica, que é potencialmente fatal. É caracterizada pelo rápido início de dificuldade respiratória e/ou circulatória, geralmente associada a manifestações da pele (urticária) e/ou das mucosas (edema). De acordo com uma publicação da EAACI, mais de 17 milhões de pessoas sofrem de alergias alimentares na Europa, e uma em cada quatro crianças Europeias em idade escolar vivem com problemas alérgicos. Além do mais, as reações alérgicas graves potencialmente fatais (anafilaxia) provocadas por alergia alimentar estão a crescer na população mais jovem. Apesar de consideravelmente subdiagnosticada, os dados epidemiológicos mostram uma incidência de anafilaxia na Europa entre 1.5 a 8 por 100,000 pessoas/ano, com um aumento dos casos de anafilaxia nos últimos 20 anos2. A prevalência de anafilaxia na Europa está estimada em 0.3% e considera-se que a sua morbilidade está subestimada. Este é precisamente um dos pontos que o novo guia de atuação da EAACI pretende sublinhar. Este problema é mais comum do que os estudos epidemiológicos parecem mostrar, entre outras razões porque tem um início agudo e inesperado, pode variar em gravidade e pode curar espontaneamente. A anafilaxia é uma emergência clínica, pelo que todos os profissionais de saúde devem estar familiarizados com o seu reconhecimento e tratamento, quer na fase aguda quer na fase persistente.

Importância do reconhecimento pelos doentes
Alimentos, medicamentos e picadas de insetos são as três causas mais prevalentes de anafilaxia. Enquanto os alimentos são a causa mais comum nas crianças, medicamentos e venenos de himenópteros (abelha/vespa) são a causa da maior parte de reações anafiláticas nos adultos, com maior frequência nas mulheres que nos homens. O primeiro tratamento é a adrenalina intramuscular, enquanto que o posicionamento correto, soros intravenosos e a inalação de broncodilatadores de curta-ação são as medidas adicionais. A prevenção do risco de novos episódios requer a prescrição de um auto-injetor de adrenalina, de modo ao doente controlar novos episódios quando em contacto inevitável com o fator causal (alimentos, látex, insetos, exercício, etc.). A EAACI e a SPAIC recomendam a todos os doentes consultar um Imunoalergologista, de modo a obter informação sobre a melhor estratégia para evitar os fatores precipitantes e minimizar o risco de novos episódios. Se a causa for alimentar, é também recomendado um nutricionista. O início súbito e os efeitos potencialmente fatais são fatores que levam os autores do guia de atuação a recomendar melhorar o reconhecimento pelos doentes e seus familiares. "É preciso dar maior atenção a estratégias para prevenir um episódio de anafilaxia, para reconhecer os sinais e sintomas de aviso, e para decidir quando e como os medicamentos devem ser ministrados, incluindo a adrenalina auto injetável", refere em comunicado Antonella Muraro, secretária-geral da EAACI e coordenadora do comité organizador do guia de atuação.